Oooooi!
Voltei e trouxe mais uma resenha para vocês que fiz quando paguei a Disciplina de Psicologia na
Contemporaneidade. O nosso mestre Paulo Aguiar, nos lançou uma proposta de
assistirmos um filme projetado para no futuro, uma ficção científica mesclada
com um romance originalíssimo (Ela – lançado em 2013, escrito e dirigido por
Spike Jonzee) e fazermos uma correlação com um dos transtornos mais presente em
nossa realidade conhecido como Nomofobia que explicarei melhor abaixo.
Logo de inicio, podemos notar nas
filmagens tons bege e cenas escuras o que é proposital para ajudar a retratar e
nos levar à história melancólica de Theodore, a pesar de a primeira vista achar
muito “viajado”, com o decorrer das cenas e assistindo outras vezes pude
observar o quão cheio de atualidades, detalhes e enigmas ele é. Mas bem, chega
de blá, blá, blá e vamos a alguns pontos que achei interessantes no filme.
Theodore (interpretado por
Joaquim Phoenix) é um homem deprimido, solitário, complexo, melancólico e com
muita dificuldade em manter relacionamentos duradouros e até mesmo iniciar
novos relacionamentos por ter medo de entrar de cabeça neles. Trabalha em uma
empresa como escritor onde o principal objetivo é redigir lindas cartas cheias
de sentimentos como se fossem feitas à mão para seus clientes, o paradoxo está
em se viver em uma época altamente tecnológica e mesmo assim estes clientes
preferirem terceirizar seus sentimentos comunicando-se através de cartas
mediadas por uma empresa/pessoa que não conhecem.
A
vida de Theodore se resume em basicamente: seu trabalho, jogos de vídeo game,
salas de bate-papo, sexo virtual, pouco contato físico, poucos encontros com
amigos e o processo de legalização da separação com a sua ex-mulher por quem
ainda tem lembranças vivas e muito simbólicas deixando claro o quão feliz ele
foi enquanto esteve com ela.
Diante da imensa solidão,
Theodore decide instalar um SO - Sistema Operacional com uma inteligência
artificial que rompe as barreiras do esperado, que lhe promete escutar, entender,
conhecer, decidir por ele, organizando sua vida e compartilhando dos seus
próprios sentimentos. Ao final das buscas e atualizações que o sistema
automaticamente faz, visível que um é a projeção do outro com a única diferença
de que um tem corpo e o outro não, o sistema acaba ficando a cara de seu
operador.
No princípio a impressão que ficou era de que esse programa serviria
mais como um organizador de tarefas, um “apoio” ou até mesmo um
“amigo/psicólogo” já que ele tinha
poucos amigos e mostrava-se necessitando de ajuda profissional uma vez que ele
preferia trancar-se em sua “bolha” a ter que enfrentar a si próprio, aceitar as
diferenças do outro e lutar por seus objetivos, um desses objetivos seria a
reaproximação com sua ex- esposa que mesmo a amando, desiste de lutar por ela
por medo de mudanças, medo da evolução, então fica a primeira questão no ar: E
se todos nós fossemos abrir mão de um relacionamento porque o outro mudou ou
cresceu? E não somos nós isso: uma “metamorfose ambulante”? Muitos de nós
mudamos e crescemos mais um pouco todos os dias e o tempo todo, o sentido da
nossa vida está em buscarmos um equilíbrio (mesmo que esse equilíbrio não seja
por um longo período) para nossa vida tão agitada e tão cheia de tecnologias
que tentam tragar o “nosso lugar”.
O filme nos mostra muitos ângulos
de visão, entre esses muitos, geram-se algumas perguntas que ainda não podemos
responder com precisão, pois se levarmos em conta os diversos contextos e
subjetividades, encontraremos várias respostas diferentes. Podemos pensar nas
seguintes perguntas: É possível manter uma relação verdadeira e contínua sem
nenhum contato físico? É possível a substituição de seres humanos por sistemas
operacionais com inteligência artificial, perfeitos, nos colocando em posição
inferior a eles no sentido de serem tão precisos e seguros e flexíveis e
compreensíveis e tão equilibrados “emocionalmente?” (Sim, com todos esses “e”
mesmo). Passamos a vida inteira buscando o contínuo equilíbrio e por sermos tão
subjetivos, mutáveis e resilientes não conseguimos o que um sistema operacional
em pouquíssimo tempo consegue nos superando tão facilmente como mostra no filme.
Uma das partes do filme que me
chamou muita atenção, além da cena em que Theodore se dá conta de que todos na
rua estão conectados a um aparelho de celular e possivelmente comunicando-se
com a Samantha, me remeteu instantaneamente à nossa vida atual, onde
dificilmente você anda pela rua sem notar alguém como se tivessem falando
sozinhos andando pelas ruas com um discreto fone no ouvido conectado a um aparelho celular, outra cena que me
chamou atenção foi a que ele acha que o motivo da auto denominada
Samantha por quem acaba se apaixonando (Seu SO, na voz sedutora e engraçada de
Scarlett Johansson), não lhe responder era pela falta de conexão de rede, a agonia
e ansiedade que são geradas por não conseguir falar com Samantha é notória em
seu semblante e o desespero fica visivelmente instalado no seu corpo no momento
em que ele cai na rua de tanto correr
tentando encontrar um sinal para poder se conectar com Samantha deixando
claro que o individuo sofre de Nomofobia
ou No-Mo (No Mobile phone phobia – fobia de ficar sem celular)
Fobia
identificada pela primeira vez na Inglaterra
em 2008, um dos mais novos transtornos da atualidade, esse transtorno é
causado por uma forte sensação de angústia ou fobia, que surge quando alguém
encontra-se impossibilitado de comunicar-se ou se vê incomunicável estando em
um determinado lugar sem um aparelho de comunicação móvel mas podendo ser
ampliando para qualquer tipo de tecnologia. Identificou-se com essa fobia? Isso
é um sinal de que sua saúde mental precisa de atenção.
Acredito que a grande questão é:
Até que ponto a vida onlline dificulta a vida offline? É de conhecimento
acredito que de todos, que o uso de forma moderada de qualquer tecnologia não
nos traz danos, mas a raiz do problema está em achar que de posse de
tecnologias “podemos tudo” e passamos a resolver tudo que queremos através
dela, a nos comunicar e fazer novas amizades (mesmo que nunca venhamos a
conhecê-la pessoalmente) e passamos a fazer coisas somente para nos tornarmos
visíveis nesse mundo virtual ao invés de priorizarmos nossos grupos de sistemas
sociais mais próximos, não estamos percebendo, mas com o uso exacerbado dessas
tecnologias, estamos nos tornando desumanizados, tendo em vista um simples
exemplo para ilustrar essa “desumanização” podemos perceber como sem notarmos,
ao nos comunicar pelo WhatsApp ou outro tipo de comunicação que necessite de
escrita, nos deparamos trocando palavras por “Emoticons” que simbolizando
nossas emoções, mas afinal, essas emoções são mesmo verdadeiras?
Aqui no Brasil, a quantidade de
aparelhos de celular já ultrapassa a quantidade de habitantes, é muito comum
entrarmos em um ônibus, por exemplo, e ao invés de vermos pessoas dialogando
umas com as outras, lendo um jornal ou um livro ou simplesmente observando e/ou
admirando o mundo ao redor, nos deparamos com pessoas muitas vezes
inexpressivas, em condição de “zumbis” onde estão roboticamente conectadas com
seu iPod, Smartphone ou tecnologia semelhante, buscando de alguma forma estar
presente, “materializar-se” em qualquer lugar exceto onde seu corpo está, sim,
essa é a impressão que se passa, por onde passamos vemos apenas o corpo de
pessoas grudadas com seus aparelhos, mas a sua mente está sempre em outro
lugar. Chegamos a um ponto em que damos prioridade a entrarmos em um lugar para
comprar ou consumir algo (e muitas vezes nem isso) só porque lá tem Wi-fe!
Projetamos em um mundo virtual algo que não somos, mas sim, que gostaríamos de
ser.
“Ela” nos convida a pensar nesse
futuro que a principio parece tão distante e que agora nos deixa
desconfortáveis ao vermos cenas tão “absurdas”, mas que talvez em breve seja
algo normal fazendo parte da nossa história atual. Diante deste contexto
apresentado no filme devemos começar refletir seriamente para onde estamos
caminhando e aonde iremos chegar com o excesso e mau uso dessas tecnologias.
Espero que possam ajudá-los de alguma forma.
Beijoos e até mais!
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