19 de jan. de 2015

O que são Transtornos Mentais e porque geram tanto estigma?

Ao contrário do que muita gente pensa, transtornos mentais não são frutos da imaginação, nem “frescura”, sinônimo de fraqueza de caráter, “doença da moda” ou “doença de rico”, são transtornos reais que causam sofrimentos reais, podendo até mesmo levar à morte.

Várias organizações preferem usar o termo “transtorno mental” ao invés de “doença mental” e “paciente mental” alegando que estes apoiam a dominação do modelo médico.


O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais (CID – 10(Classificação Internacional de Doenças), 1992: 5).

Transtornos mentais são condições de “anormalidade” ou comprometimento de ordem psicológica, mental ou cognitiva que afetam o desenvolvimento do indivíduo em seu âmbito familiar, social, profissional, escolar, na compreensão dos outros e de si mesmo, na possibilidade de desenvolver autocrítica, na tolerância a problemas do dia a dia e no alcance do prazer na vida em vários domínios.

Os transtornos mentais, em geral resultam da soma de muitos fatores como:

• Alterações no funcionamento do cérebro;
• Fatores genéticos;
• Fatores da própria personalidade do indivíduo;
• Ação de um grande número de estresses;
• Agressões de ordem física e psicológica;
• Perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que perturbam o equilíbrio emocional;

Pode-se então afirmar que os transtornos mentais não têm uma causa específica, mas que são formados por fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. 
É imprudente assimilar transtorno mental à loucura, o indivíduo não é louco, mas está doente e precisa de tratamento médico e/ou outros tratamentos, como tantas outras doenças somáticas. Os transtornos mentais como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, dependência química, demência e esquizofrenia podem afetar qualquer indivíduo a qualquer momento e a qualquer época da sua vida.
O fato é que os transtornos são bem mais comuns do que se imagina. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os transtornos mentais atingem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, representando 13% do total de todas as doenças. Provavelmente você deve conhecer alguém que tenha ou teve algum transtorno mental, mas apesar de serem comuns, o sofrimento e o sentimento de incapacidade que são causadas por essas doenças podem ser bem maiores comparados com outros problemas de saúde.
O Projeto São Paulo Megacity: estudo realizado pelo IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo com 5.037 residentes dos 39 municípios da região da Grande São Paulo, em 2012, indicou que a cidade com o maior índice de habitantes com transtornos mentais aqui no Brasil é a capital paulista.
Segundo a Agência FAPESP - Quase 30% dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo apresentam transtornos mentais, de acordo com um estudo que reuniu dados epidemiológicos de 24 países. A prevalência de transtornos mentais na metrópole paulista foi a mais alta registrada em todas as áreas pesquisadas.
A meu ver todos esses dados são identificadores alarmantes e que precisam ser levados em consideração desde já, não podemos esperar que esses dados venham a aumentar, até porque a nossa realidade de estarmos o tempo todo rodeados de agentes estressores e entre outros contribuem para isso. Penso que uma sociedade bem informada torna-se mais atenta e consciente de seu poder para prevenir e intervir quando preciso. É preciso acabar com esse estigma ligado a quem tem ou teve doença mental agarrado em inúmeros mitos e desinformações, dentre estes, de que o individuo com transtorno mental é “louco” apenas porque faz ou fez algum tratamento psiquiátrico ou é observado algum tipo de “anomalia” mesmo que esta “anomalia” não venha a comprometer sua vida.
Acredito que para termos uma sociedade bem informada e preparada para lhe dar com essa realidade cada vez mais crescente em nossos dias atuais, deve haver um maior investimento no desenvolvimento de mais pesquisas que nos dêem um norte de qual caminho trilhar para buscarmos um equilíbrio da saúde mental da população, muitas coisas ainda precisam ser descobertas, devem dar mais espaço para a divulgação em mídia do que são esses transtornos, como identificar e como buscar tratamento, os debates no meio acadêmico devem acontecer com mais freqüência como forma inclusiva e como forma de diluir os preconceitos estabelecidos pela sociedade. 
O preconceito e a desinformação são os maiores vilãos de quem encontra-se com algum transtorno mental, o temor de ser rejeitado por seus familiares, amigos e colegas de trabalho bem como ser desvalorizado e tachado pela sociedade de “louco” apenas porque fez ou faz algum tratamento psiquiátrico é um dos maiores fatores pela escolha de não buscar um tratamento adequado.
Vamos fazer a nossa parte e mudar nossos conceitos e atitudes diante dessa realidade, cabe somente a nós proporcionar melhores oportunidades a estas pessoas para que elas possam ter qualidade de vida, voltando-se para a sociedade como seres produtivos e principalmente confiantes de si e de seus propósitos.
Afinal, se prestamos mais atenção... “De perto ninguém é normal.” (Caetano Veloso)

Beijos e até a próxima!




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